quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Terraço Itália

“Noite esperada, bela, tépida... Sem poder ver as estrelas segui por entre as terras outrora conquistadas pelos Bandeirantes, rumo à planície, tendo como guia apenas a amizade, ainda que desconhecida. Um encontro: a amiga vem tímida, mas com um sorriso estampado que, diferentemente das estrelas daquela noite, não se apagava nem por um instante. Subimos um pouquinho, na verdade, cento e sessenta metros, pois queríamos estar mais pertinho do céu. Mais um encontro: vi rostos desconhecidos, mas minh´alma, também tímida como ela faz questão de ser, reconheceu os espíritos semelhantes que ali estavam e sorriu. Começa a aventura: frutos de oliveira, manteiga, foie gras e pão foram nossos anfitriões. Simples, mas cada um trazendo seu recado, de uma maneira peculiar. Água, cristalina, pura, viva, regava a conversa que fluía descompromissada. Por um momento, o céu nos convidou a sair, respirar, olhar com olhos novos o que já tínhamos visto de outras vistas. Por um instante parecíamos crianças, a alegria era visível em cada rosto, só por estar ali, contemplando do alto o palco de nossas vidas... Será que é assim que o Criador nos vê? Sonhamos aquele sonho e voltamos, ainda havia mais... Escolheu-se o vinho, de vinhas vizinhas de nossa terra ele chegou... simples, macio, caloroso, veio derramando-se em nossas taças, brilhando e refletindo rubro a luz trêmula das lamparinas que iluminavam nossos rostos, quase que sem querer. Fizemos escolhas e confesso que fui levado pelo momento pois, estando naquele lugar, me ocorreu de alimentar-me com presentes da terra que ali se representava. Funghi porcini, suculentos e saborosos, fizeram um risoto consistente, charmoso diria eu. Cada um se alegrou com um sabor e digo que vi rostos felizes ali. Pelo salão desfilavam homens que por vezes não notavam nossas presenças, talvez por serem discretos... será que tímidos como eu? Agora é chegado o momento de trazer doçura à mesa, de trazer contrastes para nossos paladares... Tiramissu... envolto por uma tênue casquinha de chocolate... ah... chocolate... como amo... O tiramissu? Nem me lembro mais dele, o chocolate o ofuscou... também, o tiramissu não se esforçou para ser visto, melhor, sentido. Por fim, após um festival de variedades de sabores e sentidos, fomos unânimes, café para todos. Preferia que nessa hora tudo tivesse sido como dizia Proust: “O simples, quase sempre é melhor...” Mas não foi assim. Grandes vasos para acolher pequenina bebida, que não possuía o calor que esperávamos. Confesso, tudo se fez confuso nesse momento, um pouco da China, da Arábia, do Peru... afinal, canela, café, chocolate... são personalidades tão fortes, que se desentenderam e acabaram por discutir sem chegar a uma conclusão. Há sabores mais especiais, eu sei, bebidas mais calorosas, não duvido, mas, momentos são únicos e assim foi, simples, único, ímpar... Cada um levou o seu sabor, deu seu toque de tempero e, todos juntos, fizemos nosso prato, “Belle nuit ao molho Ligue dês Gourmandes”.

2 Comments:

At 11:42 PM, Blogger Zel said...

lindo :)

 
At 7:31 PM, Blogger sheila maceira said...

nossa, alê, escrito assim, o (terrível) café quase evoca um pedaço de rascunho de poesia... :)

dá quase para absolver o réu, perdoar a longa discussão sem veredicto conclusivo entre os ingredientes... (rs)

amei! :D

 

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